segunda-feira, 28 de julho de 2014

Reformulando o Teste de Bechdel



Para quem não sabe, o Teste de Bechdel foi primeiramente introduzido em uma tirinha da cartunista Alison Bechdel onde a personagem da história só assistiria a um filme nos cinemas se esse passasse por três requisitos:

1- Ter, pelo menos, duas mulheres
2- Que conversem entre si
3- Sobre um assunto que não seja um homem

Esse teste caiu no gosto da Internet, já que Nerds adoram transformar coisas abstratas em números e equações, e várias feministas também são Nerds (basta ver minhas leitoras). E, desde então, pessoas vêm utilizando esse teste para medir o grau de feminismo de um filme. Inclusive, a Suécia anunciou oficialmente de que iria criar uma "nota de feminismo" em cada filme lançado lá baseado no teste.

Só que tem um pequeno problema: o teste de Bechdel não serve para medir o grau de feminismo de um filme. Na verdade, sequer chega perto de funcionar. Temos vários filmes pornôs, "sexploitation" ou filmes com valores machistas que passam no teste de Bechdel (ex: Crespúsculo, Transformers, Sex and the City, provável filme do 50 tons de cinza e qualquer filme baseado nos livros de Nicholas Sparks) enquanto outros em que temos personagens femininas fortes e independentes no filme e não passam no teste (ex: Sarah Connor de Exterminador do Futuro, Hermione de Harry Potter [estou me referindo ao último filme], a cientista de Avatar [do James Cameron, não o anime], a nerd de Tá Chovendo Hamburger e qualquer filme da história feito sobre Joana D'arc).

O exemplo mais evidente talvez seja a de "Corra, Lola, Corra", cuja personagem era tão bem representada que serviu de inspiração para a criação do "Escreva, Lola, Escreva" o blog feminista mais famoso do Brasil, definitivamente NÃO passar no teste de Bechdel.

Vários dos filmes em que figuram na lista de melhores filmes de todos os tempos por vários cinéfilos não passam nesse teste: Cidadão Kane, 2001, os Caça-fantasmas, De volta pro futuro, Ben Hur, Star Wars, Senhor dos Anéis e entre vários outros. Alguns desses, como O Poderoso Chefão e O Lobo de Wall Street são bons exatamente por não passarem no teste: são machistas porque mostram um ambiente machista.

Esse teste ficou tão famoso ao ponto de alguns filmes criarem una cena específica sem contexto narrativo apenas com o objetivo de passar no teste. Homem de Ferro 3 talvez seja o mais clássico exemplo disso.

Esse teste nunca serviu para medir o feminismo de um filme individual, mas para avaliar o machismo dentro da indústria do cinema. O importante não é saber se filme X ou Y passa, mas a grande quantidade de filmes não passarem no teste demonstra uma incapacidade de Hollywood de considerar mulher como um ser humano íntegro.

Então, como avaliar o grau de feminismo de um filme?

Eu vou apresentar aqui uma variável do teste de Bechdel em que vários críticos de cinemas estão começando a utilizar. O método foi chamado de Teste de Mako Mori, em alusão a protagonista de "Círculo de Fogo", mais um filme em que tem uma personagem feminina forte e independente e que não passa no teste. Esse teste funcionaria da seguinte maneira:

1- O filme precisa ter, pelo menos, uma mulher
2- Que tenha um arco narrativo próprio
3- E que esse arco não dependa de um homem

Olhando para esses critérios, dá para notar que esse teste geralmente tem um outro nome: CRIAR UMA PERSONAGEM DECENTE. Também não serve para graduar o feminismo de um filme, mas sim para avaliar se uma personagem foi  bem desenvolvida, independente do gênero, etnia ou sexualidade.

Considerando que Feminismo é um movimento filosófico, social e político, posso concluir que não existe uma maneira eficiente de avaliar matematicamente o grau de feminismo de um filme porque idéias são a prova de balas não são uma ciência exata.



P.S.: Meu blog teve pouca atividade nessas últimas duas semanas porque eu estava ocupado fazendo o meu próximo post, que eu tinha prometido fazer há MUITO tempo. Uma dica: cães de guarda! :P

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