Eu estou ciente de que, apesar de eu ter colocado no
subtítulo o termo “feminismo”, eu nunca dediquei uma postagem específica ao
feminismo (apesar de eu falar sobre isso nas minhas duas críticas de games
nesse blog). Não teria um momento melhor para falar sobre isso do que no dia da
Mulher.
Como deu para perceber no blog, sou uma pessoa que gosta de
falar sobre games, mas não necessariamente jogar, pois tenho prova de
residência pela frente e pelo fato de não ter tantos jogos bons como
antigamente, mas isso é assunto de uma futura postagem. Estou citando isso
porque é comum fazer uma pergunta específica para quem costuma falar (mal) dos
games e de sua indústria hoje em dia:
Qual foi o pior jogo que você já jogou em sua vida?
Eu gosto de responder que é o jogo da sedução. Porque é um
“jogo” em que todo homem (e apenas) homem é obrigado a aprender a jogar; tem
como objetivo convencer a mulher desejada a dizer sim (como se ela fosse uma
porteira da vida sexual masculina e não um ser humano pensante) e sua
jogabilidade se resume a padronizar as aproximações (cantadas) em algumas
regras em que podem resultar em mudar a própria personalidade do homem em
questão para poder “jogar”.
O pior deste jogo não está na sua jogabilidade: está em sua
programação. O mundo foi moldado pela sociedade de uma maneira com que este
jogo se torne “jogável”, ao contrário de muitos evolucionistas, que acreditam
que pelo simples fato de animais “dançarem para fêmeas”, os humanos deveriam
fazer o mesmo (como se fossemos irracionais). Como é moldado? Explico-te...
Se você nasceu homem, é empurrado para você que sexo é a
coisa mais importante do mundo. Que você só será importante se fizer sexo.
Muito sexo. SEXO SEXO SEXO. Não interessa a circunstância o método ou até o
consentimento da parceira. Fazer sexo é mais importante que tudo, mesmo que
tenha que drogar ou deixa-la bêbada para isso. Sexo está em todo lugar: nas
propagandas, nos esportes, nos filmes, nas bancas e na internet, que é
basicamente feito de pornografia. É como se fosse o dinheiro virtual dos
homens. Eu não estou querendo dizer que sexo não é bom; estou querendo dizer
que estão doutrinando homens a achar que sexo é a única coisa que importa no
mundo.
Aí este homem manipulado tenta chegar à mulher que é
convencionalmente bela com a idéia na cabeça que a dignidade dele está em jogo
e que a vida dele é ali e agora; e leva um fora. E ele se frustra como se a
vida dele estivesse perdida, mas não é pelo fato de ele gostar dela (algumas
vezes pode até ser) e sim pelo status que ele não conseguiu chegar (leia-se:
sexo). Aí ele culpa a mulher. Ele começa a achar que, se sexo é tudo e ela é
responsável pelo “sim ou não” (homem nunca pode dizer não, senão é “gay”), ele
acha que as mulheres mandam no mundo. E quando não admite a “derrota”, ele a
estupra.
E é com essa mentalidade que nasce o movimento masculinista
(ou mascu). Um grupo de ódio que fomenta a idéia que vivemos em uma sociedade
“bucetista” inserido em uma “matrix” onde os homens são ensinados a jogar o
“jogo da sedução” em que teoricamente funcionaria, mas que só realmente
funciona quem faz o contrário do que o jogo ensina (leia-se: elas preferem os
cafajestes). Esse grupo de ódio prega que todas as mulheres não prestam e que
deveria matar (ou torturar) essas mulheres que se recusam a saciar a libido
deles (que é insaciável, diga-se). Sim, estamos inseridos dentro dessa matrix
(programação) onde somos ensinados a jogar essa porcaria de jogo, mas só que
tem um pequeno probleminha:
As mulheres também são ensinadas a jogar esse jogo. E a pressão
exercida sobre elas é milhões de vezes superiores ao dos homens.
Elas são ensinadas desde cedo que sexo é a pior coisa que
pode acontecer com elas. Que é o pior pecado que elas podem cometer. Que a
virgindade é o aspecto mais importante da vida dela. Que ela tem que ser
delicada, não pode ser rebelde. Que elas têm que ter posição passiva para tudo,
nunca pode tomar atitude. Que, se não conseguir aguentar a vontade de fazer
sexo, teria que ficar presa com essa pessoa para sempre. Que ela tem que se dar
“valor” (como se fosse uma mercadoria e não uma pessoa); não é a toa que elas
acabem interpretando isso como um “fique com um homem rico”, porque afinal de
contas elas podem inflacionar esse valor literalmente.
Se os homens são ensinados a só pensar em sexo e mulheres
são ensinadas a evitar sexo o máximo possível, temos então uma contradição,
certo? Essa contradição é o fator primordial do jogo e que o torna “jogável”. A
mensagem enviada às mulheres servem para colocar dificuldade e desafio pro
jogo. Elas, basicamente, são os “chefões” desse jogo protagonizado pelos
homens. As vilãs. O mal. O obstáculo.
Quando uma mulher ousa (ou até mesmo cogita) em quebrar uma
dessas regras que são impostas todo dia a ela, geralmente ela é hostilizada e
xingada de “vadia”, “fácil”, “rodada”, inclusive pelas mulheres. Vou te dizer
uma coisa: se você é mulher, você será chamada de vadia, independente do que
fizer: só basta contrariar um homem. Então, porque essas que fogem da regra
recebem um ódio desproporcional de toda a sociedade?
Simples: uma mulher dona de sua sexualidade é uma falha na
programação. Um “glitch”. Um “bug”. Uma falha de programação tão grande que
pode corromper o jogo e torna-lo injogável. Ela é a Neo dessa “matrix”. A
“matrix” precisa de “agentes Smiths” para humilhar verbalmente a ponto de
fazê-la desistir de prosseguir e de “Cyphers” para mostrar pra ela como é que
ela pode se beneficiar fazendo parte do jogo.
Observação: Para quem não está familiarizado com o filme
Matrix; Cypher é o personagem humano que trai os protagonistas para poder
usufruir das vantagens ilusórias que a “matrix” proporciona a ele.
Como uma mulher sexualmente independente pode quebrar o jogo?
Se um jogo não te proporcionar um desafio, este jogo ficaria bem menos
engajante. Porém, o jogo precisa de mais algumas marteladas para quebrar de
vez. É preciso que o homem também seja dono de sua sexualidade (o que é bem
mais fácil já que ele é, segundo o jogo, sexualmente livre). Querer fazer sexo
apenas quando este estiver a fim, e não porque a sociedade o obrigou ou porque
ele é intitulado a fazer.
Oras, por que eu estou dizendo que este jogo precisa acabar?
Porque este jogo cria e estimula a “cultura do estupro”. Como assim? De acordo
com a Organização Mundial da Saúde, os fatores de risco para altos níveis de
estupro em um país são: a crença na “honra de família” e puridade; ideologia em
entitulamento da sexualidade masculina; e a fraca legislação em violência
sexual. Posso dizer que o Brasil é bem forte nessas três categorias. É obvio
ululante que sedução não é estupro. A diferença está no consentimento e no
respeito à negação.
Quando uma pessoa ouve pela primeira vez em “cultura do
estupro”, vem à cabeça de que existiria uma sociedade secreta que domina o
mundo a lá Illuminati que premiam e dá recompensa aos homens que estuprem
mulheres, o que não é o caso (apesar de eu não duvidar que possa existir mascus
que premiam quem estuprem mulheres).
“Cultura do estupro” é um sistema cujas regras podem
acidentalmente estimular ou facilitar a prática de estupro enquanto suas
vítimas levam a culpa ou não são levadas a sério suas acusações, dando uma
sensação de impunidade. E este jogo faz exatamente isso.
Como disse anteriormente, a sexualidade masculina é tudo
para um homem inserido nesta sociedade e é capaz de tudo para obter sexo, mesmo
sem consentimento. Tenho uma informação para te dar: sexo sem consentimento é
estupro. Em qualquer circunstância.
Quando se tem uma notícia de estupro, é normal ouvir a
desculpa do “instinto masculino” de o faz só pensar em sexo. Mentira. Não é
instinto: é manipulação. E quando uma mulher é estuprada, o que as pessoas
falam? Falam que a roupa estava indecente, que ela não deveria ficar bêbada,
que ela estava pedindo, que ela não deveria estar ali... Basicamente, culpando ela.
E o que a gente faz para evitar? Fala para as mulheres não serem estupradas e
fica por isso mesmo, enquanto tem muito homem achando que estupro é sexo e,
portanto, tem que ser adquirido.
Estupro não é sexo: é violência. Um homem que estupra não
pensa sobre ter uma relação com a estuprada: pensa em ser superior a pessoa a
ser estuprada, em mais um ponto obtido no “jogo”. É a humilhação máxima que
alguém pode sofrer: ter o seu corpo ser manipulado devido à vontade do
violentador. Não é a toa que em jogos online é comum às pessoas falarem de
estupro como sinônimo de vitória. Um homem muito inserido no jogo, que consegue
o “ato sexual”; ele está, basicamente, derrotando um “chefão” do jogo, segundo
as regras desse jogo.
E assim é como o “jogo da sedução” estimula a “cultura do
estupro”. Quando tivermos uma sociedade que faça sexo na base do amor e
consentimento ao invés de programação e obrigação, viveremos bem mais felizes.
Faça amor, não faça guerra.
Excelente texto. Ótima reflexão, resumiu tudo o que eu penso sobre "mascus".
ResponderExcluirComentei no post do oscar agora, mesmo. Ótimo texto, obrigada.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirTem uns errinhos de português aqui e ali, mas, tá ótimo!
Gostei do texto. Me fez entender algumas coisas que eu não tinha entendido como a concepção de que vivemos numa sociedade bucetista. Agora minha ficha caiu.
ResponderExcluirAchei interessante essa visão, como se o mundo fosse um "jogo", e agora entendi um pouco sobre essa expressão que os mascus usam sobre a "matrix", e nota-se que essa cultura é bem doente achando que tudo isso é normal
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirMuito bom texto, parabéns.
ResponderExcluirCristiane
Muito obrigado pelo apoio, leitorxs. Eu pretendo escrever mais sobre esse tema (feminismo) futuramente devido a popularidade. Lembrando que eu também tenho posts de outros dias e anos; é só ir no arquivo. Não se preocupe em "perder conteúdo": é só clicar no marcador ¨Feminismo¨ e também eu colocarei o link no site da Lola e na página do face "Moça, você é machista" no dia que eu tocar nesse assunto de novo. Ok? ;)
ResponderExcluirAdorei o post!! Deu para entender um pouco sobre essas loucuras de mascus...rs
ResponderExcluirOlá Igor tudo bem com você? espero que sim.
ResponderExcluirEu não sei se você viu, mas criaram um blog nojento chamado tio Astolfo, que defende abertamente o estupro de mulheres e a pedofilia.
E ainda me colocaram como autor do blog, só imagina o constrangimento que e para mim isso, por isso te peço que denuncie o blog
http:// tioastolfo. com
(Emende na barra do navegador a URL
Eu coloquei assim a URL assim para diminuir o risco deste comentário ir direto parar na caixa de spam.)
Para a policia federal por e-mail (crime.internet @dpf. gov .br) e/ou depois denuncie o para a http:// safernet. org .br/
Ai talvez a PF de um jeito de tirar esta imundice de blog do ar e punir o dono.
Se possível peça a outras pessoas que denunciem também, Conto com a sua ajuda meu colega de feminismo.
Você não precisa publicar este comentário, eu só fiz ele porque não achei nenhum formulário para contato aqui, pode apaga o este comentário depois de ler.
Espero ver novos posts seus no futuro.
Um abraço