sábado, 9 de novembro de 2013

Sobre a situação das críticas de games

É comum ver em qualquer crítica de qualquer mídia um número que simbolize matematicamente o quanto um crítico apreciou tal obra. Isso se intensifica quando se trata de games, onde o número é simplesmente a crítica em si e o metacritic é considerado (erroneamente) a referência.

No mundo dos games, um jogo 8 é mediano, 9 parece ser a moda e qualquer nota abaixo de 7,5 é um indicativo de jogo ruim. A situação piora quando fãs das franquias ameaçam de morte (é o jeito "gamer" de reclamar das críticas) qualquer um que não dê 10 pro próximo jogo da franquia (que ele VAI comprar independente da nota fornecida).

Eu entendo que videogames são um luxo e tem o preço muito alto (eu queria que fosse mais acessível, mas devido aos crescentes custos de produção, a tendência é piorar), mas ainda não justifica as notas tão altas: tem escolas que tem 5 ou 6 como nota de aprovação, seria uma loucura se estas usassem 8 como média de aprovação.

Eu poderia fornecer motivos para qual a situação esteja a esse ponto: medo de ameaça de mortes, não ter jogado REALMENTE um jogo nota 10 na vida, submissão aos grandes sites que recebem por publicidade de tal jogo e o medo de achar que falar mal signifique odiar videogames e pedir sua censura (essa opção é a minha favorita). Todos esses motivos se resumem em uma palavra: imaturidade.

Receber propina para avaliar bem filmes não faz sentido: vários sucessos de públicos são fracassos de críticas e vice-versa (poderia fazer um livro só citando exemplos). Para os de games até faz sentido, pois os "gamers", para tirar uma dúvida se é bom, verificam o metacritic. O que diabos é metacritic? É um site onde se reúne a média aritimética de todos os filmes, jogos, seriados e quadrinhos dos maiores sites de críticas de cada arte citada. Como é complicado ler todas as críticas dos jogos, as pessoas acabam vendo apenas a nota.

É extremamente deprimente para um critico gastar tanto tempo escrevendo e filosofando sobre tal obra e descobrir que o "leitor", preguiçoso, só vai querer saber da nota, mesmo ele entrando no site do crítico em questão. Pior é considerar um "é bom porque gostei" e um "é ruim porque a mecânica é extremamente confusa e a câmera não funciona do jeito planejado para este gênero" como opiniões de mesmo peso.

Eu detesto ter que dar nota a alguma crítica (arte não é uma ciência exata) e me sinto forçado a dar, e mesmo assim coloco de maneira pouco evidente. A função de um crítico não é ser um "guia de consumo" (eu recomendo ou evitem ver esse filme), mas fornecer um outro ponto de vista para a obra que o leitor "consumiu". Se eu conseguir fazer isso com o leitor (colocar a idéia, como em "Inception") e também ter um diálogo construtivo sobre a obra (gosto que comentem os posts), me sinto com o dever cumprido. Afinal de contas, isso que é erudição.

Só porque Roger Ebert dava nota para as suas críticas não significa que todos tem que fazer a mesma coisa (obs: o sistema dele não era decimal). Eu entendo que nerds tem mania de transformar tudo em número ou cálculo, mas duvido que todos os críticos que usem notas se consideram nerds.

Talvez abolir as notas seja uma atitude radical (pois o número é uma referência). O que estou querendo dizer é que a justificativa atrás do número é muito mais importante do que o número em si. Eu preciso dar nota pra você entender?

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