sábado, 3 de maio de 2014

Não somos macacos!

Desculpa pelo péssimo “timing” na publicação desse texto: passei a semana inteira ocupado. E também não sou bom de prever polêmicas; se eu fosse, eu seria um acionista bilionário.

Então, a polêmica da semana é sobre a atitude racista de um torcedor espanhol em atirar bananas no Daniel Alves e ele responder comendo a banana, atraindo milhares de simpatizantes e popularizando o termo publicitário  “somos todos macacos”.

Queria falar uma coisa para o Daniel Alves (eu sei que ele não lerá, mas alguns de seus fãs talvez leiam): você não está ajudando! Muito pelo contrário, você só está piorando as coisas! Comer a banana que foi atirada é EXATAMENTE o que o racista quer que você faça, você está provando para ele que você é aquilo que ele está te chamando.

Eu entendo que, biologicamente, Homo Sapiens e os símios fazem parte da família dos primatas, porém historicamente a palavra sempre foi usada para descrever um “sub-humano” ou um ser “abaixo do ser humano”. Portanto, não é legal se defender dizendo ser um macaco, dizer isso é confirmar esse status.

Isso ficou bem mais claro depois da publicação da revista Veja dessa semana:



Oh, que bonitinho. A Veja mandando banana para seus leitores. Ela nunca foi tão sincera assim.

Você sabe que está lutando contra o racismo de forma equivocada quando você é destaque de uma revista cujo 30% das ações da editora vem de uma empresa que lucrou muito com o Apartheid sul-africano (Naspers). Se você acha que a Naspers se arrependeu com o Apartheid, fique sabendo que a editora Abril condenou Nelson Mandela, o maior símbolo da luta contra o Apartheid, no dia de sua morte.

O motivo da velha mídia em escolher o Daniel Alves como símbolo da luta contra o racismo é simples: ele é aquele negro que o racista adora porque ele aceita e perpetua os estereótipos. Não é a toa que o único grupo feminista que a velha mídia conhece é o Femen (e Valerie Solanas) e o único ativista gay seria o Clodovil.

A moral da história, para a revista Veja, está bem evidente: aceite que você é um ser inferior e coma logo essa banana para provar que estou certo. Malcolm X e até mesmo Martin Luther King nunca seriam destaques da revista por lutarem REALMENTE contra o racismo.

Eu quase ia esquecendo: Danilo Gentili ofereceu banana para um de seus críticos negros. Quer saber o que aconteceu? Nada. O “humorista” ficou impune e seus fãs começaram a agredir o negro por ele. Pois é, Veja, o racismo no país acabou de vez. Você quis dizer: a luta contra o racismo, não é?



ATUALIZAÇÃO:

 "Eu estava até um pouco triste com essa situação, porque já havia denunciado em outras ocasiões e não tinha dado em nada. Tentei dar uma resposta positiva a uma ação desafortunada. Eu não gosto muito do #somostodosmacacos, porque acho que a gente é a evolução disso. Somos humanos e todos iguais. Acho que é isso que devemos defender. Marcas me procuraram, mas eu não quero ganhar com isso, não quero popularidade. Não quero ganhar nada a não ser a luta contra o racismo." - Daniel Alves

Perfeito!

2 comentários:

  1. É, eu achava que era só eu que estava incomodada com o "Somos todos macacos".

    Digo, bacana seria se o Daniel mastigasse toda a banana e desse uma cuspida FELOMENAL na cara do otário do torcedor, mas creio que isso seja humanamente impossível.

    Digo, nossa, a impressão que todos passam é "VIRAM? ESSE NEGRO NÃO VEIO FALAR DE IGUALDADE E NEM FICOU CHATEADO NO FACEBOOK, LEVOU A BRINCADEIRA "NA BOA", ISSO SIM QUE É PROTESTO". A brancaiada aprova, então é valido. Aiaiai.

    Aliás, só é válido "se levar na brincadeira". Dá uma preguiça TERRÍVEL tentar explicar isso.

    Agora, colocar uma tag "Somos todos viados" eu tô pra ver.

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