domingo, 10 de agosto de 2014

FIFA 15 não terá times brasileiros. E daí?



A notícia de que a edição de 2015 do jogo eletrônico de futebol FIFA não terá times brasileiros e muito menos jogadores desses clubes deixou a comunidade gamer brasileira em uma situação de pânico apenas igualável com a declaração do preço do Playstation 4. E esse pânico se espalhou para também para a comunidade esportiva brasileira, sendo repercutida em jornais de esportes e lida por pessoas que não jogam videogame.

A demora em dar a minha opinião sobre o assunto está tanto no meu aumento da dedicação nos estudos e nos estágios quanto na minha apatia sobre a franquia. Eu já escrevi em um post dizendo que o uso de franquias anuais que lançam o mesmo jogo quase sem alterações (algumas vezes apenas mudando o número do título e a capa) é o que está denegrindo com a indústria de games, abrindo mão de ser uma arte e abraçando de vez o conceito de “produto”.

Resumindo para quem não entendeu: por que diabos você vai querer fazer um jogo novo, começando do zero, se a prática de lançar o mesmo jogo do ano passado com alterações quase desprezíveis te dá, não só mais lucro, como também mais receita?

Mas esse é um assunto que eu tenho que falar porque é de enorme relevância para a comunidade de games do Brasil. FIFA e PES (sua concorrente direta) são, disparadamente, os dois games mais vendidos do país, a ponto de seus desempenhos nas vendas tornarem uma metonímia de todo o mercado de games do Brasil. Quando algum vendedor de games fala que “as vendas estão boas”, eles estão falando especificamente de FIFA e PES, e vice-versa.

Ok então...

A desculpa oficial da EA (desenvolvedora do FIFA) é a de que ela não teria “segurança jurídica” sobre os direitos de imagem dos jogadores devido a “mudanças recentes” no futebol brasileiro. Essa declaração é estranha porque o futebol brasileiro extracampo é conhecido exatamente por ser extremamente conservador. Eu gostaria de saber exatamente qual foi essa mudança. E não, eu não acho que foi o Bom Senso FC porque nem todos os jogadores profissionais fazem parte do movimento ou sequer concorda com o movimento.

Por um outro lado, a Konami (desenvolvedora do PES, concorrente direta), afirma que a versão de 2015 de seu jogo terá times e jogadores da Série A brasileira e talvez da Série B também. Rumores dentro da empresa afirmam em um possível contrato de exclusividade dos clubes brasileiros com o PES, o que deixaria mais claro sobre a “mudança” do futebol brasileiro referida pela concorrente.

Com ou sem o contrato de exclusividade, uma coisa é certa: em 2015, clubes brasileiros estarão disponíveis para jogar exclusivamente no PES em games de console. Apesar de eu não gostar de exclusividade (porque toda exclusividade é, na verdade, uma excludência de outro), preciso deixar claro uma coisa para quem não conhece videogames: toda a indústria dos videogames gira em torno do conceito de exclusividade.

Pessoas compram Nintendo não por causa de seus controles ou de seus gráficos ou até pelo seu formato; pessoas compram Nintendo porque é a única maneira possível de se jogar Mario, Zelda, Metroid, Kirby, Pokémon e outros jogos da Nintendo. Pessoas compram Xbox para jogar Halo, Gears of War e o que tiver disponível na XBLA (Xbox live arcade). Pessoas compram Playstation para jogar God of War, Uncharted e o que tiver disponível na PSN (Playstation network). Acho que já deu para entender.

Eu até estou achando engraçado como que apenas agora as pessoas estão em estado de pânico percebendo que exclusividade é uma coisa que existe naturalmente no mundo dos videogames e que existiu desde sempre, servindo de sustentação da própria indústria.

Estou ciente de que o futuro dos videogames pode caminhar para uma plataforma multimídia que seja possível assistir TV, filmes, seriados e videogames de todos os tipos em uma só máquina e que pode ser utilizada em qualquer lugar a qualquer momento, mas o problema é de que ainda não vivemos nesse futuro e precisamos lidar com o que temos hoje, que é consumir aquele jogo que tem aquele elemento que você deseja e que os outros não tem.

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