segunda-feira, 14 de abril de 2014

Tem muito filme de super-herói?

A crítica do “The New York Times” para o filme “Capitão América 2” intensificou um grande debate sobre o suposto excesso de filmes de “super-heróis” nos cinemas recentemente. A resposta para a pergunta é óbvia: não tem tantos filmes assim. E eu não estou falando isso por ter uma preferência pelo gênero. Eu te explico:

Nesse ano, estão agendados quatro filmes (Capitão América 2; Guardiões da galáxia; Homem-Aranha 2 e X-men), enquanto ano que vem estão agendados apenas três (Homem-Formiga, A era de Ultron e Batman versus Superman). Só no mês de dezembro tem mais filmes de drama que em um ano de super-heróis. E nem preciso falar nas dúzias de filmes de comédias românticas e de perseguição policial que temos todos os anos. Correção: “Batman versus Superman” foi adiado. Portanto, teremos “apenas” dois filmes de super-heróis para ano que vem, o que ainda é muito para essas pessoas.

Esse tipo de acusação geralmente vem de críticos de cinemas elitistas e “puristas”, que acreditam que o cinema é a “mídia suprema” e que qualquer coisa vindo de uma mídia “inferior” que o cinema (leia-se roteiro adaptado) imediatamente estraga a “perfeição” do cinema. Principalmente vindo dos quadrinhos, algo visto como “infantilóides” para quase todos eles. Eu até poderia argumentar que a maior franquia da história do cinema, 007, originou-se na literatura; ou até que um dos estúdios mais prestigiados de Hollywood, a Disney, fez a sua fama adaptando contos de fada. Mas eu não vou fugir do assunto e me focar nos super-heróis.

Filmes de super-heróis existem hoje por dois principais motivos. A primeira é a de que os efeitos especiais de hoje permitem que os “poderes” sejam demonstrados na tela de uma maneira que soe plausível. Homem de Ferro e Thor, que tem muitos efeitos especiais, nunca fariam tanto sucesso sem os seus efeitos especiais.

O outro é a de que alguém conseguiu criar uma fórmula de como fazer um bom filme de super-herói e vários seguiram (ou tentaram seguir). Eu estou me referindo a Sam Raimi. O gênero já fazia sucesso quando Christopher Nolan apareceu e deu uma visão mais “adulta” ao gênero (não que ela nunca tenha existido). Eu não estou considerando Superman porque na época do primeiro filme ele era muito mais do que um personagem de quadrinhos, apesar de sua origem.

Eu não nego que algumas vezes realmente dá uma impressão de que existe uma suposta abundância. E eu acredito que essa impressão se dá porque, na verdade, só se tem um tipo de super-herói que está em excesso: o super-herói urbano. Aquele que vive em uma cidade grande, tem identidade secreta e vive lutando contra o crime. Ainda não vi um filme decente de “super-herói cósmico”.

Dentro desses “urbanos”, temos uma variação na estrutura do filme: Hulk é praticamente um filme de monstro, algo popular na década de 50. O último Superman era um Avatar as avessas: um alien protegendo os humanos contra um ataque alien. Thor é muito mais parecido com Highlander do que com Homem-Aranha. X-men sempre foram uma metáfora para as lutas dos direitos civis de negros/gays; Dias de um futuro esquecido seria praticamente Exterminador do Futuro com personagens de X-men. Guardiões da Galáxia é quase Futurama. Capitão América 2 era praticamente um filme da franquia Identidade Bourne até a sua metade.

Homem-Aranha, que é um típico super-herói urbano, só está sendo refilmado porque se a Sony não fizer mais filmes do personagem, ela terá que devolver os direitos de filmagem para a Marvel, que arranjará um jeito para colocar nos Vingadores e arrecadar ainda mais dinheiro do que já arrecadou. Eu sei: é uma atitude babaca que só tende a destruir a imagem da franquia e do gênero ao fazer filmes em repetição para não perder o direito, mas é apenas uma exceção.

Se tem um padrão que realmente é irritante é a de que quase todos os filmes de super-herói o protagonista é um homem branco cis e hétero com namoradas “manic pixie dream girls” lutando exclusivamente contra o crime e especialmente contra um nêmesis. Nenhum gay. De negros temos apenas Blade e Hancock. Sobre as mulheres, temos um grande risco da primeira super-heroína aparecer nos cinemas ser “Jem” (mencionei semana passada porque o filme está fadado ao fracasso) e da Mulher-maravilha, principal super-heroína das ficções, aparecer como coadjuvante do filme de “Batman e Superman”.

Correção: Uma Thurman já atuou como super-heroína uma vez em “Minha Super Ex-Namorada”. Mas considerando a maneira sexista que foi abordada a personagem, eu não sei se eu chamaria aquilo um exemplo de “sucesso” ou até mesmo eu poderia considerar aquilo como super-heroína, principalmente quando quase ninguém lembra mais do filme.

De certa maneira, todos os gêneros também sofrem desse mesmo problema, principalmente os de ação. E esse é o ponto que eu quero chegar: os filmes de super-heróis de hoje ocupam o mesmo papel que os filmes de faroeste ocupavam na década de 50, servindo como uma “atualização”. E não me lembro de um crítico de cinema falando em excesso de filme em faroeste naquela época. E teve 61 filmes de faroeste apenas em 1957.

Ambos os casos são “exércitos de um homem só” que usam a força bruta para resolver uma luta contra seus rivais, tendo seu papel mais como mantenedor da ordem o que realmente de ajudar os pobres e oprimidos. E, parando para pensar bem, os super-heróis geralmente tem uma mensagem subliminar bem fascista, considerando que, a princípio, os super-heróis foram feitos para ser uma modernização dos contos épicos da mitologia grega. O motivo para a “endireitada” é simples: foco no público-alvo que tinha dinheiro o suficiente para comprar continuamente revistas em quadrinhos.

Batman é um bilionário que mete a porrada em anarquistas com pouquíssimos recursos financeiros. Homem de Ferro é um bilionário que mete a porrada em estrangeiros que vestem armaduras de ferro. Lanterna Verde é um caubói do espaço. Quarteto Fantástico funciona como se fosse uma “família tradicional”. Miss Marvel, super-heroína feminista, foi estuprada e parabenizada pelos seus “colegas de equipe”.

Se tem alguém “de esquerda” na equipe de super-herói, dê a ele um arco e flecha e faça uma analogia ao Robin Hood que está de bom tamanho. Os únicos super-heróis que poderiam ser considerados “de esquerda” são os “X-men”. E, mesmo tendo problemas de aceitação com os humanos, geralmente são arremessados vilões que querem acabar com os humanos e mutantes durante a história só para gerar “cenas de porradaria” (ex: Apocalipse e Massacre).

Portanto, eu concluo afirmando que tem muito espaço a ser explorado no gênero ainda se você retirar a obrigação de ser um homem branco hétero ou de ter um inimigo específico para combater ou até mesmo criar um “efeito adverso” que o faça pensar usa vezes em usar seus poderes. Ou poderia a voltar a “defender as necessidades dos pobres e oprimidos”. Possibilidades são quase infinitas.

Enquanto isso, vou me preparar para aguentar esses mesmos críticos falarem que “tem muito filme de videogame” daqui a alguns anos.

4 comentários:

  1. Acredito que a primeira super-heroína a aparecer estreando um filme como protagonista foi a Mulher Gato da Halle Berry. Normal nem lembrarem dela já que foi um filme "sofrido de ruim", o que só me faz pensar que se Jem realmente for um fracasso só vai alimentar a crença de que "filmes de ação estrelados por personagens femininas não vendem". Por isso não há até hoje um filme da Viúva Negra ou Mulher-maravilha, estas vão ficar fazendo pontas em filmes de super-heróis homens sabe-se lá até quando.
    Uma chance boa que tiveram era ter convidado a Michelle Pfeiffer a fazer um filme só da Mulher Gato, sem precisar do apelo sexual de Tomb Raider, só uma história boa e atuação carismática bastariam.
    E um herói gay? Hmmm... Não espero ver um nem como figurante nos próximos 10 anos, considerando até a escassez de personagens assim nos próprios quadrinhos.

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    1. Anõnimo das 16:36

      Mulher-Gato é mais uma anti-heroína das histórias do Batman, mas eu entendi que ela era protagonista daquele filme. Frozen, Jogos Vorazes e Gravidade estão aí para afirmar que "filmes de ação estrelados por mulheres vendem". A Warner hesita muito nesse conceito, mas já tem boatos da Disney fazer um filme da "Miss Marvel" sem introduzir o Capitão Marvel, dando a entender que é uma heroína original e não uma "versão feminina", o que seria uma ótima idéia.

      Filme com super-herói gay em dez anos só se for em uma das três oportunidades: um com roteiro original (não baseado em quadrinhos), um filme do Colosso do X-men (não é um personagem muito interessante, mas já que vão fazer da Mística, vai que dá) ou rebootar de novo o Homem-Aranha e botar Miles Moralez (que é negro também) ao invés de Peter Parker.

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  2. A maravilhosa Viúva Negra é a única 'vingadora' que não tem um filme próprio. É ridículo.

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    1. Raven,

      Eu não diria "única", já que temos Gavião arqueiro, Mercúrio e Feiticeira Escarlate (além do Visão, Pantera Negra, Doutor Estranho e Miss Marvel que ainda não apareceram no grupo), mas eu entendi o que você quis dizer: a única personagem heróica da DC/Marvel que apareceu nos cinemas sem ter um filme próprio. Ou melhor: a única personagem heróica da DC/Marvel que apareceu nos cinemas.

      Apesar de ela ter um "história de origem" muito mais interessante do que, digamos, Thor (que não é um personagem interessante para fazer um filme, muito menos dois) ou Capitão América, um filme dela soaria como uma refilmagem de "Salt".

      Tem boatos da Disney fazer um filme da "Miss Marvel" sem introduzir o Capitão Marvel, dando a entender que é uma heroína original e não uma "versão feminina", o que seria uma ótima idéia. Considerando que a Warner hesita na Mulher Maravilha, esta seria a melhor alternativa.

      Você já percebeu que, nas histórias de super-heróis, a mulher é geralmente "do bem" quando está dentro de uma equipe e geralmente "do mal" quando age sozinha? Algo do tipo: mulher quando ajuda um homem = bem; mulher independente = mal.

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