quarta-feira, 11 de junho de 2014

Opinião sobre a E3 2014 - Dia 1 e 2

Falta 1 dia para começar a Copa do Mundo da FIFA no Brasil. Todo o mundo está falando sobre isso... exceto os EUA, onde está acontecendo essa semana a Eletronic Entertainment Expo, a E3, a maior conferência anual de videogames e o evento de grande porte mais misógino do planeta. O outdoor deixa bem claro a mensagem: “Território de homens brancos zangados: mulheres e negros não são permitidos”

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E o interior confirma: é o único lugar DO PLANETA em que o banheiro masculino fica com uma fila imensa enquanto o feminino fica vazio.

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Olha: eu não estou com paciência e nem com clima de falar sobre esse evento em plena Copa do Mundo aqui no Brasil, mas alguém precisa postar algumas notícias sobre o maior evento de games em um blog “female-friendly” aqui no Brasil (além da Flávia Gasi, of course) com um termo que “leigos” de videogames entendam. Então, vamos lá:

OBS: eu não vou falar de TODOS os lançamentos, já que quase todos são meras cópias de seus antecessores com apenas os gráficos mais “bonitinhos”. Vou citar apenas aqueles que me deram vontade de comentar ou aqueles que eu acho interessante (SPOILER: quase nenhum).



Dia 1 – 09/06

A primeira “grande” (termo usado para quem desenvolve games e consoles: são três no total) a se apresentar foi a Microsoft. Mesmo em um evento de games e sua máquina (Xbox) ser associada mundialmente com videogame, eles ainda insistem em falar de OUTRA COISA, como se tivessem vergonha de admitir que fazem videogame. Então, se tivesse que escolher um game para começar, qual seria?

Óbvio que tinha que começar com Call of Duty. Sem sombra de dúvida a franquia mais relevante de games para console hoje em dia (além do Mario) anuncia o nome do seu próximo game: Advanced Warfare. O nome, em si, parece uma piada da própria franquia.

E, para anunciar isso, contrataram Kevin Spacey (leia-se “aquele cara do House of Cards”) para ser o garoto-propaganda do próximo game. Ok, confesso que ir de um criminoso de guerra para um ator que interpreta um político ganancioso é uma evolução considerável. Afinal de contas, não tinha como piorar.

O game em si vocês já sabem como a franquia funciona: a mesma coisa ano após ano com mapas reciclados de games antigos e gráficos mais “bonitinhos”. E, como foi a Microsoft que anunciou o game (Call of Duty é da Activision), a versão da Xbox One vem mais “completo”.

Forza Horizon 2: porque se você for um homem e não gostar de guerra, tem automóvel para você correr! Affz...

Halo 5. Óbvio que a Microsoft lançaria mais um game da galinha dos ovos de ouro da empresa. Se não fosse por Halo Xbox nunca faria sucesso, Microsoft não estaria no ramo dos games e o Japão ainda seria a maior potência de games.

Agora, vamos falar da Ubisoft. Ok, óbvio que tiveram outros games anunciados para o Xbox One, mas nenhum que justifique a compra de um console novo. Sunset Overdrive talvez seja o que seja mais perto de convencer já que, além de ter mais cores do que todos os outros títulos anunciados somados, parece uma mistura de Dead Rising com Jet Set Radio e... aquele ali não é o Neymar? Já estou pensando em Copa do Mundo.



Agora, falando de Ubisoft. Assassins Creed Unity (ou 5) vai focar a sua história na Revolução Francesa. Apesar de eu achar que essa é a melhor época possível para criar uma história dessa franquia, eu já perdi as esperanças. Essa franquia segue o mesmo rumo de franquias de filmes como Jogos Mortais e Piratas do Caribe, que tem sequência enquanto tiver audiência. O problema com essa estratégia é que o game não tem um fim: apenas um meio bem alongado.



OBS: nesse game você pode escolher um protagonista dentre as quatro opções fornecidas. Todos os quatro são homens brancos. Fica a dica. “Ah, mas fazer um personagem feminino dá trabalho!” Como se recriar Paris do século XVIII inteira com detalhes impressionantes não dessem. Pelo menos justifica o nome Unity.

Foi anunciado o vilão do novo game Far Cry 4. E ele se parece...



...com alguém tentando fazer cosplay de um vilão de shonen dos anos 90. Pra quem não sabe, se alguém no mundo dos games se veste de lilás, só pode significar duas coisas: ou está dizendo que “ele é vilão por ser gay” ou é uma homenagem a Saints Row (que é o contrário de homofóbico).

Rise of Tomb Raider: esse funciona como uma sequência do game lançado ano passado. O anúncio foi polêmico, já que a sinopse envolve a Lara Croft (protagonista) consultando um psicólogo para superar os traumas que ela sofreu no game anterior.

A polêmica reside no fato de ela procurar um psicólogo para lidar com o trauma por ser mulher e, se fosse homem, não precisaria disso. Em minha humilde opinião, ninguém deve ser considerado fraco por procurar psicólogo. O problema está no fato que a grande maioria dos protagonistas masculinos de videogame terem transtornos de agressividade tratáveis com psicoterapia optarem por não ir ao psicólogo. Eu estou falando especialmente com você, Kratos.

Em Rainbow Six: Siege, existe um modo de jogo “pique bandeira” onde a mulher é a “bandeira” do jogo. Eu não estou brincando. UM PIQUE-BANDEIRA ONDE A MULHER É A BANDEIRA. Não tem como o corpo da mulher ser mais objetificado do que criar um pique bandeira onde o seu corpo é a bandeira. E eu achando que Fat Princess era o ápice...

Mas não tema porque, segundo a própria Ubisoft, ela não está sendo misógina porque ela colocou uma mulher para apresentar o novo game do Just Dance. Cara Ubisoft: reforçar estereótipo de gênero ainda é sexismo se você ainda não sabia.

Agora, a EA. Eu não tenho muito o que falar, já que estão anunciando os mesmos games (FIFA 15, Madden 15, Mass Effect 4, The Sims 4, Dragon Age Inquisition...) ano após ano, com duas exceções. Uma boa e outra má: qual você escolhe?

Vamos começar com a má. Battlefield: Hardline mostra que a principal concorrente de Call of Duty desiste de competir de frente e resolve ser, basicamente, um jogo de “polícia e ladrão”. E como venderam essa ideia? Postando um vídeo onde um homem branco dá uma surra em um negro. SÉRIO! Ninguém percebeu esse dado tão polêmico e... racista?



A boa é “Mirror's Edge 2”. Eu até gostei de uma protagonista feminina em que não seja dependente de um homem, mas eu realmente acho que o primeiro game não funciona simplesmente porque em um parkour você precisa saber aonde está pisando. Vamos ver se o segundo conserta isso.

A segunda “grande” a apresentar foi a Sony. Diferente do ano passado, cuja estratégia foi humilhar a concorrente direta Microsoft, percebeu que a adversária é um alvo fácil demais de ser humilhada (mas mesmo assim humilhou um pouco com alguns games gratuitos) e focou no que ela tem a oferecer.

Se Microsoft tem o Call of Duty mais “completo”, Sony terá o Batman: Arkham Knight mais “completo”. O game parece uma mistura de Christopher Nolan e Michael Bay. Pra quem não entendeu: parece ruim. Ok, a jogabilidade não deve ser ruim mas a sua estética é pavorosa.

Começando com The Order: 1886, que parecia ser de zumbi até ser anunciado que é sobre monstros devoradores de carne humana. Seguindo com Destiny, que parece ser um Halo menos fascista, Infamous: First Light (que é uma prequência da franquia) e o remake de Grim Fandango. Repetindo: remake de GRIM FANDANGO!

E, é claro, são os indies que fazem a Sony ter uma apresentação superior à da Microsoft. Os títulos variam desde Entwined (que eu não sei descrever: assista o vídeo)...



… até o (que mais apreciei) No Man's Sky.



Mas nem tudo são flores: a única mulher protagonista dos games da Sony está no First Light, a remasterização de The Last of Us não faz sentido, já que o game não é bom pra isso tudo, Uncharted 4 vai existir e eu não entendi como pretendem fazer um bom filme baseado em Rachet e Clank (não me leve a mal: a franquia é engraçada e divertida, mas não tem um bom roteiro).

Quem dera se, invés da Sony administrar a vitória ela resolver liquidar de vez tornando o PS4 retocompatível com o PS3, 2 e 1... OH WAIT! Playstation Now! Um serviço de streaming de games! É quase isso, mas acho que dá pro gasto.



Dia 2 – 10/06

E esse é o Dia da Nintendo, terceira e última “grande” a se apresentar. Quase todo mundo estava apostando em um fracasso da empresa ou em um anúncio de outro console para substituir o Wii U (e admitir o fracasso). E não foi isso que aconteceu. Considerando que Sony e Microsoft estagnaram no “homem branco hétero de 30 anos de barba feita pouco cabelo e com transtorno de agressividade”, a mera existência da Nintendo parece algo revolucionário.

Começando com Bayonetta 2 (será exclusivo porque a Sega não conseguiu manter a produção). Como eu tinha dito em um post anterior, ela é uma personagem que precisa ser melhor e mais aproveitada.

Splatoon é um shooter em que você usa armas de paintball e esguicho d'agua. É irônico perceber que, dentre tantos shooters que temos por aí, aquele que é o mais inovador é aquele feito pela Nintendo.

Mii jogáveis em Smash Bros, um editor de níveis Mario Maker e um novo game do Star Fox? Prevejo que isso será um sucesso de público...

Captain Toad, Kirby and the Rainbow Curse, Yoshi Wooly's World e Pokémon Sapphire/Ruby: Nintendo sendo Nintendo.

OBS: “Ser Nintendo” significa lançar vários games com o mesmo protagonista com pequenas variações de jogabilidades e mudanças significativas na estética e no level design.

Mas o que eu REALMENTE quero falar sobre a Nintendo é sobre o novo game da franquia Zelda. Eu não estou me referindo a sua jogabilidade ou a sua estética, mas sobre o protagonista. Ou melhor: a protagonista.

Link, apesar de ser masculino, sempre foi um personagem com aparência andrôgina, ou seja, nada nele diz que ele é um personagem masculino ou tem seus principais atributos atrelados a masculinidade. Mas veja só essas imagens:

Link, personagem principal de "The Legend of Zelda" em novo jogo da franquia para o Wii U (Foto: Divulgação/Nintendo)



Mais alto e magro, sobrancelhas mais delicadas, rabo de cavalo, cintura mais fina, orelhas mais altas e pontiagudas (os fãs da franquia veem isso como um código de gênero biológico), usa um arco invés de uma espada e segura de uma maneira mais parecida com a Katniss do que com Legolas. Ou seja...

LINK É (provavelmente) UMA MULHER NESSE JOGO!

Se o segundo personagem (ou terceiro) mais importante da história dos videogames pode ser transformado em uma mulher, o que impediria os outros games de TER mulheres? Hein? Não é tão difícil assim!

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Olha: eu sei que o motivo de grande maioria das desenvolvedoras de games boicotarem a Nintendo é porque quando ela tinha o monopólio do mercado de games ela usava e abusava de seu poder; mas fazer um boicote a essa altura do campeonato vai dar a impressão de que os desenvolvedores têm MEDO de qualquer avanço social e preferem a estagnação.

OBS: A Sony disse que ia fazer uma grande surpresa para o público da América Latina no final desse dia. E a grande surpresa foi... NADA! Meia dúzia de games com descontos e mais nada!

E termino por aqui. O post está grande demais. No final de semana eu posto a segunda parte, com os anúncios do terceiro e quarto dia. Até lá, boa copa!

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